Ação Revolucionária Armada
Braço armado do Partido Comunista Português; 1970-1973 / De Wikipedia, a enciclopédia encyclopedia
A Ação Revolucionária Armada (ARA) foi o braço armado do Partido Comunista Português (PCP), como organização semiautónoma que esteve em atividade de 1970 a 1973, sob a ditadura do Estado Novo então liderada por Marcello Caetano. A primeira reunião do Comité Central do PCP sobre o uso da violência como ação de autodefesa realizou-se em dezembro de 1962, e marcaria a posição do Partido em relação a este tema, procurando relacionar esta com as ações de massas. A violência não era posta de parte, podendo ser usada no paradigma do "levantamento nacional", desde que se esta fosse dirigida pelo Partido, e numa conjuntura de radicalização e intensificação da luta de massas, que pudesse levar a um ambiente revolucionário.
Ação Revolucionária Armada | |
---|---|
Vinheta da ARA sobre o ataque ao Cunene | |
Datas das operações | 1970 a 1973 |
Fundação | 1964 |
Motivos | Fim da repressão:
|
Área de atividade | Portugal |
Financiamento | Partido Comunista Português |
Inimigos | |
Filiação | PCP |
Em 1964, o PCP decidiu criar as "ações especiais", e em 1965, o núcleo, composto por Raimundo Narciso e Rogério de Carvalho, vai para Cuba tirar um curso sobre treino militar. Passados cinco meses, as "ações especiais" já tinham quadros, equipamento bélico, e vários locais clandestinos. O seu primeiro alvo foi as instalações da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) perto de Rio de Mouro, mas não é bem-sucedida. Nesse ano, uma vaga repressiva enfraqueceu o Partido e a ARA, que fica sem conseguir contactar a direção do PCP durante meses. Foi enviado em 1966 um novo grupo de militantes para Cuba para cursar em treino militar, mas quando voltam, influenciados pela linha guerrilheira do foquismo, fora da linha partidária, rompem com o Partido. Na reunião sobre o acontecimento, Álvaro Cunhal defendeu que os futuros operacionais das "ações especiais" deveriam cursar na União Soviética em vez de Cuba. Em 1967, quando Narciso volta da União Soviética, tem a incumbência de reestruturar as "ações especiais" com Ângelo Veloso. Em 1970, as "ações especiais" reuniram aproximadamente 42 operativos, estando relativamente estáveis, aptas para executar as ações já planeadas e com um paiol seguro. Num contexto de radicalização da sociedade portuguesa, Raimundo Narciso passa a dirigir a ARA com Jaime Serra e Francisco Miguel.
As "ações especiais" passaram a apresentar-se como Ação Revolucionária Armada a partir da reunião de rescaldo ao ataque ao navio Cunene, a 26 de outubro de 1970. A 20 de novembro, detonam três bombas, cada uma com um valor simbólico, representando as frentes de combate político: a luta contra a repressão, contra a guerra colonial, e contra o imperialismo. A Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE) — antecessora da Direção-Geral de Segurança (DGS) — só descobriu que a ARA era uma organização ligada ao PCP na sabotagem da base aérea de Tancos, com o nome de código, Operação "Águia Real", devido à complexidade envolvida e ao tamanho do feito, que resultou na destruição de 28 aeronaves, 13 delas irrecuperavelmente. A 3 de junho de 1971, há uma sabotagem da central de telecomunicações nacionais e internacionais durante a conferência ministerial da NATO, que causou "grande embaraço" ao regime, sendo esta noticiada mundialmente. A 2 de outubro, a ARA executa uma missão para desviar material explosivo no assalto ao paiol da pedreira. A 27 de outubro, dois dias antes da inauguração do Quartel do Comiberlant, às duas da manhã, uma bomba explodiu, que causou uma gigante destruição no Quartel, tanto no interior como no exterior. Em janeiro de 1972, a ARA realiza uma ação de destruição de material de guerra sofisticado e novo, vindo de França, que seguia para a guerra colonial no navio Muxima, e em julho há uma tentativa malsucedida de sabotar um navio. A 9 de agosto, no dia de tomada de posse de Américo Tomás, a ARA realiza uma última ação, que constituiu no corte de energia no país inteiro com ações de sabotagem.
Após um ano sem ações, e com a conciliação entre a oposição e o PCP, a ARA é suspensa em maio de 1973. Esta sofrera duros golpes anteriormente, com a prisão de vários operacionais importantes. Ela continuou clandestina até à revolução de 25 de abril de 1974, sendo só dissolvida com a queda do regime ditatorial do Estado Novo.