História dos conceitos
Sob o ponto de vista da noção gravitacional / De Wikipedia, a enciclopédia encyclopedia
A história dos conceitos (em alemão: Begriffsgeschichte, ouvir), também chamada de história conceitual, é um campo da História voltado para a análise histórica dos conceitos. O surgimento da história dos conceitos como proposta metodológica no contexto alemão remete aos séculos XVIII e XIX; no entanto, esta abordagem só adquire o estatuto de uma disciplina autônoma dentro da grande área da História em meados do século XX, quando sua teoria e metodologia são sistematicamente estabelecidas em torno de alguns princípios centrais, tais como a distinção entre conceito e palavra, a utilização dos conceitos de sincronia, diacronia, semasiologia e onomasiologia, ambos importados da linguística, assim como a formulação do Sattelzeit, entendido como um período histórico equivalente ao advento da modernidade, no qual diversos conceitos sociais e políticos teriam passado por profundas transformações semânticas.
Os primeiros passos para a institucionalização do campo da história dos conceitos foram dados em 1955, com a fundação da revista Archiv für Begriffsgeschichte por Erich Rothacker, e, no ano seguinte, com a fundação do Arbeitskreis für moderne Sozialgeschichte, por Otto Brunner. Nesta primeira revista, foram anunciados em 1967 dois grandes projetos de pesquisa para a realização da história dos conceitos. O primeiro deles, publicado em 1971, foi o Dicionário Histórico de Filosofia (Historisches Wörterbuch der Philosophie), coeditado por Joachim Ritter, Karlfried Gründer e Gottfried Gabriel.[1] No ano seguinte, surgiu outro trabalho igualmente extenso e importante, o Conceitos Históricos Básicos (Geschichtliche Grundbegriffe), organizado por Bruner, Werner Conze e Reinhart Koselleck. A esses dois projetos, soma-se ainda um terceiro, o Manual de Conceitos político-sociais Básicos na França (Handbuch politisch-sozialer Grundbegriffe in Frankreich), anunciado em 1982 e editado por Rolf Reichardt e Eberhard Schmitt a partir de 1985.[2] Influenciados por esta tradição alemã, outros projetos em história conceitual desenvolveram-se a partir do século XX, tais como o Iberconceptos, que reuniu pesquisadores da Península Ibérica e da América Latina com o propósito de realizar um estudo comparado dos conceitos sociais e políticos no mundo Iberoamericano, o Projeto de História Conceitual Europeia, realizado por pesquisadores de diversas universidades europeias com o objetivo de analisar o desenvolvimento dos conceitos dentro do continente europeu, e o projeto História Conceitual Global da Ásia, 1860-1940, que incorporou os princípios metodológicos da história global para elaborar uma história dos conceitos na Ásia entre meados do século XIX ao XX.
Após a sua institucionalização, a história dos conceitos deixou de se restringir ao contexto alemão e passou a integrar a agenda historiográfica de diversas universidades ao longo do mundo. Sua presença é particularmente visível no Brasil, na Coreia do Sul, e na Europa como um todo. Desde o seu surgimento, a história conceitual travou um importante diálogo com a história social e com a história das ideias, utilizando alguns princípios da primeira na sua constituição disciplinar e realizando uma oposição à segunda em função de algumas limitações metodológicas da sua abordagem. Quando a proposta da história dos conceitos deixou de se restringir ao contexto alemão, ela passou a dialogar com outras disciplinas que se debruçavam sobre o mesmo tipo de fontes históricas, mas que o faziam seguindo perspectivas metodológicas distintas, como foi o caso da história dos discursos políticos. Mais recentemente, a história dos conceitos passou a ser incorporada por novas perspectivas historiográficas, como a história global, com o intuito de adaptar a sua abordagem de acordo com algumas das reivindicações contemporâneas da História, tais como a necessidade de superação do eurocentrismo e das análises conceituais pautadas exclusivamente nos Estados nacionais.