Jogral
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Jogral ou joglaria (do provençal joglar, substantivação do adjetivo latino joculáris,e: 'divertido, burlesco, risível'), na lírica medieval até o século X, era o artista profissional de origem popular, um vilão (não pertencente à nobreza) que tanto atuava em apresentações públicas nas praças, quanto nos palácios senhoriais no papel de bufão, com suas sátiras, mágicas, acrobacias, mímica.[1] No dizer de Jacinto do Prado Coelho, "homens de condição inferior que ora cantavam música e poesia alheias, ora eles próprios compunham, para tirarem proveito da sua arte".[2] Os jograis podem ser equiparados aos comediantes latinos (mimi, histriones, scurrae, thymelici) e aos scopas germânicos (aedos), que viajando por palácios, as gestas da nobreza bárbara. Segundo Menéndez Fidai, "jograis eram todos aqueles que ganhavam a vida atuando perante um público, para recreá-lo com a música, com a literatura, com charlatanices ou com prestidigitações, acrobacias e mímicas."[3] Modernamente jogral é um modo de declamação de poemas, ou canções por um coro, alternando entre o canto e a fala.[4]
A joglaria é bem mais antiga que o trovadorismo. Na Península Ibérica e em outras regiões, conforme testemunhos pelo menos desde a época de Afonso II de Aragão (1180) o jogral era figura obrigatória em todos os festejos. Jograis e segréis representam a antiga cultura popular da Península, sobretudo da Galiza. A partir do século X, os jograis também recitavam canções de gesta. Alguns jograis, além de executantes, também compunham as suas próprias melodias e poemas ou introduziam variantes nos poemas, adaptando-o ao seu próprio gosto ou inserindo passagens pessoais. Por exemplo, o clérigo Gonçalo de Berceo se dizia "jogral de São Domingos de Silos", pois pusera em versos a biografia do santo. No século XI, surge nova designação occitânica para o poeta-músico: trobador. Da Provença, que vivia um período de quase dois séculos de paz, vieram os trovadores, que transmitem sua arte refinada aos luso-galegos - "en maneira de provençal a fazer agora un cantar d'amor".[5] Os jograis, assim como os menestréis, começam a divulgar a poesia trovadoresca, cantando-a e tocando instrumentos como a viela, o alaúde, ou a cistre. Após o século XIV, o termo "jogral" ganhou o sentido de artista popular itinerante. O jogral é como um poema, podendo ser cantado ou não. Também pode definir-se como a arte de poetizar por duas ou mais pessoas. E consiste em pronunciar versos engraçados com o propósito de divertir as pessoas e, no caso de antigamente, o rei. Hoje, os que realizam jogral, são os artistas de rua, chamados antigamente Bobos da Corte, que eram empregados do rei e tinham função de diverti-lo com rimas, poemas, jograis, mímicas, brincadeiras, adivinhas, trava-línguas... Enfim, entreter a corte. Os jograis exprimiam-se na língua do povo (menosprezada pelos intelectuais), quer fosse o francês antigo ou outras línguas regionais (normando, picardo, occitano, bretão), em oposição ao latim, a língua culta da época. Nesse sentido, distinguiam-se dos clérigos, que se expressavam em latim, desprezavam a língua vulgar e usavam termos pejorativos, como joculares ou histriones, para aqueles que se exibiam nas feiras e praças. Esses clérigos eram os responsáveis pelo registo escrito dos textos. Assim, dado o seu desprezo pela cultura popular[6], poucos textos nas línguas faladas pelo povo, anteriores ao século XII, foram escritos, copiados e preservados, exceto por algumas hagiografias.
No século XIII, os jograis serão crescentemente desprezados. "Menestrel" é a designação que os músicos da corte passarão a adotar a partir do século XIV, quando o termo "jogral" passa a ter conotação pejorativa de 'truão, vagabundo'. Os limites entre de classe entre trovadores e jograis são, no entanto, muito imprecisos, exceto pelo fato de que os jograis eram "profissionais", isto é, recebiam dinheiro pelas suas apresentações, ao contrário dos trovadores - ainda que houvesse trovadores que também ganhavam a vida como jograis. Arnaut Daniel, por exemplo, era da nobreza, mas atuava como jogral para se sustentar. A partir do século XIV, a figura do jogral deriva para a simples condição de músico ou de bobo, e abandona o ofício poético. Um outro tipo, o segrel, que existiu somente na escola galego-portuguesa, configura uma categoria intermediária entre o trovador e o jogral. Distinguia-se do trovador, por compor a troco de pagamento, e do jogral, por ser um fidalgo, embora sem recursos para aspirar à condição de cavaleiresco. O segrel perambulava de corte em corte, a cavalo, acompanhado de seu jogral, ou engajava-se nas hostes reais, para exercer seu ofício de artista.[7][8]