Religião etrusca
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A religião etrusca compreende um conjunto de histórias, crenças e práticas religiosas da civilização etrusca, originada no século VIII a.C. com ligações da anterior cultura Villanova da Idade do Ferro, fortemente influenciada pela mitologia da Grécia Antiga e da Fenícia, e compartilhando semelhanças com a religião e mitologia romana simultânea. Como a civilização etrusca foi assimilada na República Romana no século IV a.C., a religião e a mitologia etruscas foram parcialmente incorporadas à cultura romana antiga, seguindo a tendência romana de absorver alguns dos deuses e costumes locais das terras conquistadas.
O sistema etrusco de crença era um politeísmo imanente; isto é, todos os fenômenos visíveis eram considerados manifestações do poder divino, e esse poder era incorporado em deidades que agiam continuamente no mundo, mas podiam ser dissuadidas ou persuadidas por homens mortais através do conhecimento delas e ritos. Eles acreditavam que sua religião lhes havia sido revelada pelos videntes,[1] os dois principais sendo Tages, uma figura infantil nascida de terra cultivada que foi imediatamente presenteada com presciência, e Vegoia, uma figura feminina. Acreditavam em um contato íntimo com a divindade[2] e não tomavam decisões sem a devida submissão, como na busca pela consulta aos deuses e sinais deles. Tais práticas foram assumidas posteriormente pelos romanos.
A origem da religião mítico-teísta dos etruscos―eles se chamavam Rasenna, com os gregos chamando-os de Tyrsener e com os romanos Tusci ou Etrusci―é praticamente obscura, assim como a origem especulativa desse próprio povo na ciência até hoje, que nunca formou um estado territorial, apenas uma liga de doze cidades culticamente englobadas. A última dessas doze cidades, Vetulônia, foi descoberta no século XIX pelo médico e arqueólogo italiano Isidoro Falchi. Em todo caso, eles só se tornaram tangíveis como um povo na Itália, em cujo ambiente cultural estiveram firmemente integrados. Sabemos mais detalhes sobre eles, além dos gregos, principalmente de fontes romanas, embora (tal como em Hesíodo) relatos bastante míticos e contraditórios, e essas fontes datam do século I a.C. no mínimo e são de seletivas a fragmentárias, e frequentemente unilaterais. Para complicar, a língua etrusca dificilmente é decifrada, embora possa ser lida, porque os etruscos usavam um alfabeto grego (a variante eubeia).
Especialmente em períodos posteriores, essa religião também foi fortemente influenciada pela mitologia grega. Por outro lado, a camada original é dificilmente reconhecível, nem mesmo seus mitos são conhecidos com mais precisão ou apenas através das tradições romanas, o mesmo se aplica à sua teologia e aspectos essenciais de seu culto, especialmente suas formas iniciais. Em contraste com as religiões pré-cristãs do Ocidente, era também uma religião de revelação profeticamente transmitida, que por sua vez fala mais por uma descendência oriental, bem como o estilo de arte na fase orientalizante da cultura etrusca, principalmente porque foi no Oriente que ocorreram primeiro tais religiões, no Egito, na Mesopotâmia, no judaísmo e no zoroastrismo, razão pela qual os paralelos são aqui frequentemente traçados.
Apesar das massivas influências gregas e de seu caráter misto, a religião etrusca é no cerne de sua essência completamente não grega, pois proclama a submissão total do homem à vontade divina, frente a qual o homem nada é. Para os etruscos, sua religião era, portanto, de importância central e penetrava profundamente no modo de vida individual. A assim chamada Etrusca disciplina (do latim disciplina: doutrina, instrução, ciência), consistindo em livros que eram cuidadosamente guardados pelos sacerdotes como conhecimento secreto e continham instruções precisas sobre como executar oráculos, providenciavam o modelo e regulações para isso. Nos tempos antigos, essa doutrina da interpretação dos sinais divinos, ou seja, a técnica de adivinhação (do latim divinare: ter uma inspiração divina) e do manejo correto do mundo divino foi famosa muito além da Etrúria. A leitura do fígado (haruspício), a interpretação do vôo dos pássaros (auspícios) e de relâmpagos (disciplina fulgural) eram tanto uma parte deste ensinamento como o procedimento correto para agrimensura, administração ou a construção de tubulações de água. Os textos originais das disciplinas foram em grande parte perdidos na época dos romanos. A cosmologia relacionada é extraordinariamente complexa e também apenas preservada em seus contornos.